MANDA QUEM PODE, OBEDECE QUEM TEM JUÍZO

    
Por trás deste dito popular, está o maior dos paradigmas da era do conhecimento, romper com o modelo paternalista, autoritário e burocrático. É o modelo cultural cultivado anos a fio em nosso país desde sua descoberta – Brasil colônia, vice-reino, império (até aí a escravatura era o modelo de trabalho), velha república, nova república, ditaduras...

Canso de me deparar com executivos que ainda cultivam nas atitudes do dia a dia este modelo arcaico. A maior incidência parece ser nas empresas de menor porte e isto tem uma explicação: quando uma empresa começa, seu idealizador não é um administrador exímio, mas sim um empreendedor que tem no sonho seu maior aliado para conquistar mercado, sua formação é geralmente voltada para o produto, seu exemplo de administração ainda é o amigo de churrasco do fim de semana ou dos próprios pais, frutos de nossa sociedade altamente paternalista e autoritária.

Quer dizer que nas empresas de maior porte não acontece? É claro que sim, com tanta intensidade quanto nas de pequeno porte. A diferença está na consciência do problema. Em empresas de médio e grande porte já existe alguma preocupação na mudança deste paradigma, incentiva-se a reeducação, mas o discurso ainda é maior que a prática.

Mas este modelo não é o que dá certo? E as fortunas construídas neste modelo, os grandes impérios de empresas? Estes exemplos não são parâmetros para os empreendedores? A resposta é “foi”. Hoje o jogo é outro, muitas dessas empresas que ainda sobrevivem do passado demonstram ter dificuldades de se adequar aos novos tempos – IBM, XEROX entre outras, no Brasil nem se fala.

Além disso, ao presente e futuro dá-se uma grande divergência – como conciliar o crescimento e busca pelo lucro e a competitividade versus a responsabilidade social e uma maior distribuição de renda.

O desafio é acreditar e agir de acordo com seus valores e visão de mundo. A encruzilhada está sempre batendo a nossa porta – veja o modelo do capitalismo que vivemos -- uma sociedade altamente capitalista que busca seu bem estar em detrimento dos interesses de outras, este é o modelo que o mundo está seguindo, o poder do capital e da força. Enquanto este modelo persistir, existirão àqueles que o admirarão ou que justificarão dizendo que a história nos mostra que sempre existiram e sempre existirão, o homem quer poder . O socialismo padeceu, sucumbiu diante das forças do bem. E concordo, entre o que chamaram de socialismo/comunismo e capitalismo, prefiro o capitalismo. Mas nós temos o dom do livre arbítrio, não conheço uma pessoa que não deseje uma sociedade mais justa, de reais oportunidades, maior distribuição de renda, mais consumidores, enfim, um mundo melhor. Por que então não agimos nesta direção? Porque quem manda não sou eu, diz nossa consciência e além do mais, precisamos sobreviver – este é o modelo mental.

Então você deve estar perguntando a si mesmo - como mudar este modelo mental, é possível mudá-lo?

Sim. É possível e é preciso. Para isso precisamos ter em mente que esta não é uma proposta para mudança do noite para o dia , é um processo de contínuo aprendizado que envolve o psico e não mais o lógico.

E este é um problema a mais. As próprias universidades dão ênfase à lógica-matemática, as escolas da administração seguem modelos de lucros quantitativos e não lucros qualitativos. Nossas escolas de primeiro e segundo grau ainda estão educando para a era industrial, para nossos filhos conseguirem um bom emprego, quando este está acabando. Nossos políticos continuam fazendo política da época do vice-reino, trocas de favores, corrupção. E nós? Nós aceitamos tudo isso, qual a nossa atitude diante dos fatos – somos coniventes e sobreviventes ou agentes de mudança e protagonistas de uma nova era?

Sim, podemos escolher o que queremos fazer, quando e onde, afinal somos o único animal na terra com esta capacidade, usem-a! E quem sabe podemos mudar o ditado para: “Pode quem faz, compartilhar é poder ao alcance de todos”.

Dirceu Ferreira

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